domingo, 24 de agosto de 2008

Faz parte do meu show

Quando estar ao lado dele é tão gostoso e recíproco, você tenta nem lembrar que daqui a pouco ele vai embora. E você tenta fingir que não se importa quando ele tenta te lembrar, mas é só a ele que você engana. Porque se importa sim, porque não parece justo, porque você queria que ele ficasse.
Então você beija outras bocas pra não se permitir ser toda dele, bocas tão vazias quanto as da sua adolescência. Você olha pra outros olhos pra só se envolver pela metade, pra depois só sentir metade da saudade. Mas só serve pra lembrar o quanto ele é especial, o quão melhor é o beijo dele e que os olhos dele são muito mais reais. Serve pra lembrar o quanto você vai perder. E aumenta ainda mais a saudade.
Eu ainda não tive um filho. Eu ainda não moro sozinha. Eu ainda não te esqueci. São exemplos de coisas que eu ainda não fiz, mas pretendo fazer. É por isso que eu uso o ainda. Se dizem que eu ainda não cheguei em casa é porque um dia eu vou chegar. É pra isso que serve o ainda. Então, não use ainda pra falar sobre nós dois a não ser que se refira ao fim. Não diga ainda quando sabe que a palavra certa é nunca. Posso dizer que ainda não consegui te tirar da minha vida, mas não venha fazer de conta que ainda tem alguma vontade de permanecer nela. Já se foi o tempo em que eu acreditava que ainda ficaríamos juntos.
Não te dou o direito de falar comigo como se eu fosse tola, como se eu já não soubesse a natureza dessa relação, como se eu não soubesse que aqui não há relação.
Então não venha me dizer ainda quando eu só queria que você dormisse ao meu lado.
Algumas vezes a minha vida parece mesmo um filme, quando não parece é porque estou tão afundada nela que não percebo. É porque minha visão ficou turva e a gente acha que isso tudo é real. Real é que não é. Não pode ser real esse mundo estranho demais.
Não pode e não é, pelo menos não do jeito que às vezes eu vejo. Ando pensando nessa vida que a gente vive, e não tem feito tanto sentido. Não que eu não ache que valha a pena e queira me matar, longe de mim. Acho a vida muito válida e sou feliz na maior parte do tempo. Até encontrei alguém que faz sentido, mas ele vai embora. Na verdade eu acho que eu sempre sei o que é certo(?) mas eu sempre esqueço quando o coração fala mais alto que a cabeça - é clichê mas é a mais pura verdade.
Tem gente que consegue ter esse olhar, ver que é tudo ilusão, o tempo todo. Eu tô longe disso. Ainda, eu espero. Sei lá, quero só aprender a dar valor às coisas certas.
Seria bom se a gente pudesse gravar certas coisas para evitar futuras repetições. Eu, como tenho a memória bem comprometida, estaria sempre com o pen drive lotado. Também colocaria lembranças do que acontece quando eu excedonas latinhas de cerveja sem ter previamente me alimentado.
Sem dúvida teria as imagens das crises de choros dramáticas por rapazes não merecedores, pra que eu nunca chorasse uma segunda vez pelo mesmo cidadão ou, na melhor das hipóteses, não chorasse mais a primeira. Gravaria, também, os encontros ruins, para não correr o risco de - em um momento de carência misturado com amnésia - repetí-los. Iria gravar pra nunca mais me esquecer que não é legal fazer em 3 dias o que tive 5 meses para desenvolver. Mas eu não tenho um pen drive para gravar os momentos da minha vida.
Ainda me assusto com o fato de saber que você é alguém que presta atenção em gestos e atos falhos. Assusta saber que se eu confundir uma palavra, você sabe que é mais que um engano, assusta saber que você sabe mais do que eu sobre o que eu achava que mais sabia. Assusta ver entre suas grandes qualidades as minhas grandes faltas. E, ao mesmo tempo, é muito bom.
É tão legal que eu me proibo de lembrar que existem uns muitos quilômetros e interesses separando a gente.
A vontade que dá é de te agredir o coração para que sinta a minha dor, vontade dá é por não poder fazer contigo o que você me faz. E que faço eu se a cada amanhecer encontro intacto esse falso amor que eu protejo sem deixar morrer?
Me dói a saudade de quando eu podia ao menos sonhar com nós dois sem ter de fechar os olhos pra não enxergar a tão clara distância.
Ódio de mim por preferir isso à nada, quando o nada é muito mais do que isso. Ódio de você por me aprisionar nessa maldita cela sem trancas, de portas abertas sem querer sair.
Mas quando você aparece eu posso rir e ser eu mesma, porque eu já era eu mesma antes e você já tinha gostado. E quando eu sou eu mesma e você também, porque você sempre é, a gente dá muito certo juntos, porque eu mesma e você mesmo temos um monte de coisas em comum e achamos interessantes as nossas diferenças.
E quando eu sou eu mesma e você me olha eu gosto muito dos seus olhos, gosto tanto, quase tanto quanto quando você fala coisas tão peculiares que eu nunca escutei de mais ninguém. E aí eu fico muito feliz de ser eu mesma.

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