quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Das frustrações


ocê divide a mesma cama com alguém, traça roteiro de viagem, viaja, torra o dinheiro - que você não tem - indo e vindo, gasta seu tempo, sua juventude, suas forças. Você supera coisas que jamais pensou que fosse suportar. Você finge que não vê outras tantas e, lá pelas tantas, você vê que foi tudo em vão. Cadê o “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” e aquela história toda? Cadê o “até que a morte nos separe”?

Na minha cabeça, duas pessoas que se amam deveriam formar um casal apaixonado. Daqueles que a gente vê em filme. Com beijo romântico no pôr-do-sol. Na minha imaginação adolescente, o amor nunca perde o viço. Era só isso que eu pedia pra mim. Flores, frases, vinhos, praias, corações, edredons. Mas quem mandou eu acreditar nos filmes, nos livros, nos textos, nas palavras, nas promessas?
Se o amor tem um preço, é este: amar vinte quatro horas por dia, sete dias por semana. Amar cem por cento. Amar por inteiro. Infinito. Sem data de validade ou prazo pra expirar. Dar sem garantias de receber nada em troca. Apostar todas as suas fichas.

Eu não sou fácil, não me vendo, não aceito migalhas, não gosto de metades. Sou erótica, sou neurótica. Sou boa, sou má. Sou uma mala. Sou difícil de carregar. Mas não sou um brinquedinho.
Entendo perfeitamente crimes passionais. Entendo perfeitamente quando minha amiga diz que não consegue conversar mais com o ex-namorado porque ela tem vontade de bater nele. Sinceramente, entendo. Quando alguém te machuca, te decepciona, te magoa, a dor é tão grande que você quer agredir a pessoa de volta. Você se sente impotente. Enganado. Ferido. Frustrado. Dá vontade de matar. De morrer. De sumir. Seu mundo desaba bem na sua frente. Você sente que perdeu seu tempo, sua vida, sua auto-estima, suas forças. E qual a pena pro agressor nesse caso? Qual a pena pra alguém que entrou na sua vida, na sua casa, nos seus sonhos, nos seus planos e, num piscar de olhos, destruiu tudo como se tivesse esse direito?
Dizem que, quando a gente ama alguém, deve deixar livre. Então, realmente não sei amar. Não consigo dizer que amo e ficar longe. Não consigo gostar e não ter notícia. Não me dou bem com a distância. Não entendo quem gosta e não quer ficar junto.

Não entendo quem diz que ama e não sabe se quer. Não entendo alguém que quer certezas sem apostar no relacionamento.
Para mim, acabou a graça de sair pra paquerar carinhas que não vão dar em nada. Acabaram as noites sem dias seguintes, os dias seguintes que ainda eram a balada da noite anterior. Eu me viciei em querer uma pessoa só. Uma pessoa que agüenta todas suas manias. Uma pessoa que criou nela o hábito dele. Que viciou ela nele. E agora o vício dela é repetir ele. O vício dele. Vinte quatro horas dele. Sete dias por semana ele. Acorda, ele. Dorme, ele. Só ele.
Eu sou aquela faz todas as vontades dele, viaja, ri, canta, come, beija.
Eu prefiro acordar de manhã e saber pra quem ligar do que tentar lembrar o nome da noite anterior. Prefiro estar com alguém que conheça meus defeitos, que tolere minhas pirraças, que me ame apesar do que eu sou.
Como se preferir fosse algo que eu tivesse escolhido. Não foi.




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