Eu sempre acabo lendo revistas sobre saúde, bos hábitos e afins. Minha mãe é assinante de duas revistas mensais sobre o assunto e apesar de eu ser uma sedentária não confessa, sempre leio as novidades sobre a área. E descobri que a 'modinha' agora é correr em grupo. Várias pessoas se reúnem e vão correr em 'manadas'. O relato das mesmas é que é muito mais estimulante e divertido. Fiquei até com vontade de me juntar a um desses grupos, mas eu acredito não ser uma pessoa capaz de cumprir determinadas metas. Acho o máximo gente que estipula metas e as cumpre. Admiro de verdade. A pessoa resolve que vai acordar às 6 da manhã pra correr três vezes por semana e lá está a pessoa, correndo cedinho três vezes por semana. Até invejo, confesso. Eu já estipulei essa meta de ser saudável e ao menos frequentar uma academia, com horários muito mais aceitáveis, e continuo sedentária.
A verdade é que nos últimos tempos não tenho conseguido cumprir nem minhas metas prazerosas, como pegar uma psicina nos finais de semana. Nem pensar, então, em completar três horas de estudo por dia. Eu faço cronogramas, estabeleço uma disciplina e até coloco os livros em cima da mesa, mas são muitas as distrações. É capaz do cronograma dizer que eu preciso ler 27 páginas por dia e a 26ª ser o meu limite, só de birra. A semana passada passei deprimida e prendendo o choro, porque para mim, ter de estudar sobre assuntos que não me interessam realmente não me alegra.
Quanto aos exercícios, pra começar, essa história de correr no verão não me pega. A vida por si só já traz muitos sofrimentos para o ser humano para que eu vire cúmplice disto. Prefiro comer saladinhas ou diminuir o número de cervejas do que me exercitar num calor senegalês. Verdade seja dita, prefiro comer fritura e tomar 5 cervejas a correr neste inferno. Façamos o seguinte: correr está definitivamente cortado das minhas metas de verão. Não harmoniza.
Além disso, o pior aspecto da criação de metas, para mim, é o desapontamento com o fracasso. Eu não preciso dividir com ninguém as minhas metas, basta eu saber que não cheguei lá para me sentir mal e tentar inventar desculpas para mim mesma. O que faz uma pessoa inventar desculpas para si? É como se eu tivesse dupla personalidade e a Heloisa preguiçosa vai tentando explicar para a Heloisa responsável as razões pelas quais aquilo não precisa ser feito. Não é difícil descobrir qual é a Heloisa mais forte - embora ela sofra um pouco com a culpa. Mas a meta de não fazer exercícios no calor eu continuo cumprindo com elegância.
Mas eu sei também que eu não ando muito agradável ultimamente e que a minha presença não tem sido a mais animadora. Sei que a apatia tem tomado conta de mim e que conversar com um vaso não seria muito diferente, mas isso vai passar. Não é como se eu tivesse me entregado, eu me esforço. Eu me esforço pra sorrir, me esforço para arrumar assunto, me esforço para achar graça nas coisas, mas não tá fácil. Minha vontade é de ficar em casa, deitada na cama, entregue aos seriados - e, quando eu não me entrego, a rua parece mais uma penitência do que uma distração. E toda vez que eu penso em tomar um porre pra esquecer, penso na ressaca da quantidade de álcool necessária pra se esquecer... penso que vomitar meu coração não vai impedí-lo de doer. Talvez eu precise mesmo de um porre. Talvez de um exorcismo. Vai ver o certo mesmo seria destruir todas as minhas memórias e, quando me der conta, ser só um corpo jogado. Um corpo que fala, anda e faz o que tem que fazer, mas se você olhar lá dentro dos olhos em busca de alma, só vai achar melancolia.